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Hikari (光): expressão nipônica que significa luz ou brilho

Obra de Shoko Kanazawa dá boas-vindas ao público que adentra ao espaço físico da JHSP

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Mensagens expressivas e poderosas da língua japonesa

Na exposição DŌ: O caminho de Shoko Kanazawa, cada obra de Shodō, caligrafia japonesa, traz uma mensagem poderosa. Por meio de kanjis, os ideogramas que compõem as palavras e expressões da língua japonesa, a jovem artista Shoko Kanazawa, além de se expressar por meio da arte da caligrafia, dá ao espectador – e ao mundo – um respiro, um momento de contemplação e reflexão a partir de sua escrita.

Hikari (光): luz ou brilho

Uma das obras de grande potência e com um significado particular para a JHSP é a Hikari, com a qual o visitante se depara logo ao adentrar o espaço físico da instituição.

Produzida em 2020 por Shoko Kanazawa, esse trabalho é resultado de uma demonstração feita especialmente para um vídeo da JHSP que integrou a programação online do Festival Sem Barreiras da Prefeitura de São Paulo. Na ocasião, a palavra 'hikari', que significa luz ou brilho em japonês, representava a luz de esperança que Shoko e sua mãe estavam enviando a todas as pessoas com deficiência para que pudessem viver com autonomia.

No contexto da exposição, a luz de Hikari dá as boas-vindas ao público e vem acompanhada de um breve texto escrito pela mãe da artista que logo de início nos diz:

“Vamos captar a energia destas luzes [as luzes do mundo, no caso] e viver de modo resplandecente”.

Seria possível intuir que a obra, então, aparece ali providencialmente, abrindo-se para um ambiente de iluminação pontual, mais escurecido e dramático, em que cada uma das obras atua como um ponto focal, tendo cada uma o seu brilho próprio.

Atrair luz mesmo em momentos sombrios

Muito na tradição e cultura japonesas destaca a sombra, o silêncio e um certo mistério. Junichiro Tanizaki em seu célebre livro 'Em louvor da sombra' descreve, em uma passagem, o poder de cintilância do ouro, questionando se uma pessoa que adentra construções como templos, por exemplo, em determinado momento do dia em que a luz já está mais esmaecida, deixa de conhecer um “clarão de sonho”.

Contudo, ao realizar ele mesmo essa experiência, compreende que o metal não perde sua potência, sendo capaz de atrair luz mesmo em locais ou momentos sombrios e conclui:

“Os modernos desconhecem esse aspecto da beleza do ouro porque vivem em casas bem iluminadas. Mas os antigos, que viviam em casas escuras, não só sentiram fascínio por essa bela cor, como também se deram conta da sua utilidade”.

Captar a luz e sua energia, como sugerido por Yasuko Kanazawa, requer também que conheçamos a sombra, sendo capazes, assim, de realmente admirá-las.

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Bibliografia:

TANIZAKI, Junichiro. Em louvor da sombra; tradução do japonês e notas Leiko Gotoda; prefácio de Pedro Erber. – 1ª ed. – São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2017.

 

Saiba mais sobre a exposição:

+ DŌ: O caminho de Shoko Kanazawa

Leia sobre outras obras de Shoko Kanazawa:

+ Kansha (感謝): expressão japonesa que pode ser traduzida como "gratidão"

+ Kotodama (言霊): a crença japonesa de que uma força espiritual reside em cada palavra dita

+ Usenfūma (雨洗風磨), expressão que pode ser traduzida como “a chuva lava, o vento lapida”

+ O conceito da obra kami (神), que traz à tona o respeito e veneração à natureza e aos deuses que habitam cada um dos seus elementos

+ Ichigo ichie (一期一会), uma expressão e filosofia de vida que pode ser traduzida como "uma vez, um encontro"

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